Autores

Rodrigues, G.S. (UFS) ; Wartha, E.J. (UFS) ; Silva, J.L. (UFS)

Resumo

O trabalho apresenta como objetivo o levantamento de informações acerca da argumentação por parte de estudantes das séries iniciais, no tocante a determinados conceitos científicos. Serviu como objeto de análise, a elaboração de argumentos construídos por alunos de 06 a 10 anos, residentes no Agreste de Sergipe. As observações dos argumentos relacionados à ciência foram efetivadas mediante a realização de oficinas promovidas pelo projeto de extensão da Universidade Federal de Sergipe (UFS), denominado Ciência sobre Rodas. No tocante à análise dos dados, utilizou-se como referencial o modelo de Toulmin. Os resultados demonstraram que a construção do conhecimento baseado na argumentação, possibilita uma maior interação entre a turma, além de favorecer a elaboração de argumentos complexos.

Palavras chaves

Argumentação; Crianças; Toulmin

Introdução

O estudo aborda questões relativas à argumentação propostas por alunos do Ensino Fundamental no Agreste de Sergipe, tendo como objetivo identificar os modelos de argumentação, elaborados por crianças, de 06 a 10 anos, utilizados para explicar determinados fenômenos científicos. Tem-se verificado que nas últimas décadas ocorreu um crescimento no número de estudos que abordam a análise do discurso argumentativo em sala de aula. Segundo Dias e Silva (2010), o diálogo e a argumentação já vêm sendo utilizados desde a idade antiga, com os gregos. Investigações recentes têm apontado a argumentação nas aulas de ciências como um importante instrumento para a educação científica. Para Capecchi e Carvalho (2001), em meio às aulas de Ciências, a troca de ideias, baseada na argumentação, entre os alunos e a elaboração de explicações coletivas, favorecem o contato com um aspecto importante para a formação de uma visão da Ciência como uma construção coletiva, cujas teorias estão em constante processo de avaliação. Atualmente, ensinar os alunos a argumentar cientificamente, desde as séries iniciais, tem se tornado um objetivo pedagógico prioritário, uma vez que o processo de argumentar requer que os estudantes sejam capazes de opinar e chegar a conclusões a partir de evidências, além de avaliar seus argumentos em relação com outras possíveis argumentações. Adotaremos o modelo de Toulmin para nossas discussões, pois acreditamos que este padrão seja uma ferramenta potencial para a compreensão da função da argumentação para elaboração do conhecimento científico. A argumentação é considerada por alguns autores como uma importante ferramenta para a construção do conhecimento por parte dos estudantes, sendo assim torna-se mister levantar e analisar as alegações propostas pelos alunos.

Material e métodos

Nesta seção apresentaremos aspectos relativos a metodologia adotada na pesquisa. Foram desenvolvidas atividades relacionadas ao conteúdo científico, a saber: corrida de carrinhos, atividade do copo, bexiga que não explode e garrafa torneira. Serviram como sujeitos de pesquisa, alunos com idades entre 06 a 10 anos. Em meio à prática das oficinas, mencionadas acima, estabelecidas no projeto “Ciência sobre Rodas: busão da ciência do agreste e do sertão” nos diferentes municípios de Sergipe, todos os dados observados foram registrados em áudio e vídeo e posteriormente, transcritos. Foi utilizada câmera de áudio/vídeo para coletar dados referentes aos conceitos elaborados pelos estudantes. O trabalho investigativo adotou como abordagem um estudo qualitativo, apresentando-se como uma pesquisa de campo. A pesquisa qualitativa trabalha com dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos (FLICK, 2009, p. 20). As pesquisas de campo ou estudos de campo, de acordo com Gil (2010), procuram muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. Ainda para o autor, o planejamento do estudo de campo apresenta maior flexibilidade. A escolha desse tipo de pesquisa justifica-se pela necessidade de inquirição e análise das argumentações propostas por alunos do Ensino Fundamental Menor, participantes do projeto, acerca de determinados conceitos científicos. Os resultados foram apresentados na forma de quadros. Para a análise, recorreremos à interpretação e comparação respaldada pela literatura pertinente. Os dados foram interpretados com base nos conceitos do modelo de Toulmin. Adotou-se tal modelo por este possibilitar a compreensão do papel da argumentação no pensamento científico.

Resultado e discussão

No tocante a análise dos argumentos produzidos, buscamos identificar elementos argumentativos do modelo de Toulmin - o dado (D), a conclusão (C) e a justificativa (J) - na fala dos estudantes para a proposição de explicações concernentes às oficinas didáticas: corrida de carrinhos, atividade do copo, bexiga que não explode e garrafa torneira. Torna-se relevante citar que os responsáveis pela realização das oficinas apresentaram as questões e buscaram questionar os alunos no intuito de estimulá-los a expressar suas ideias sobre determinado fenômeno. Por meio desta investigação prática, os alunos poderão observar causas e consequências, através do levantamento e testes de hipóteses. Inicialmente, foram propostos um problema para cada oficina, como demonstrado no quadro 01. Através do processo investigativo, os estudantes elaboram hipóteses e argumentos, chegando a determinada conclusão. Para Colombo et al (2012), as abordagens argumentativas têm um olhar atento para as interações que ocorrem no ambiente estudado, ou seja, está fortemente focado em dados observacionais entre alunos-alunos e alunos-professores. Os estudantes ao falarem “[...] e tem que soprar”, “ coloque ela se água”, apresentam hipóteses, um dado (D) para o questionamento. Ao enunciar “ a água sai mais”, “ ele vai andar mais”, os alunos expõem suas justificativas (J). Por meio da interação entre hipóteses e justificativas, as crianças puderam elaborar suas conclusões (C) por meio da expressão “a menos que” nota-se a presença de um elemento de contestação, citado por Colombo et al (2012), como elemento de refutação (B). Os resultados demonstraram que a construção do conhecimento baseado na argumentação, possibilita uma maior interação entre a turma, além de favorecer a elaboração de argumentos complexos.

Quadro 01: Esquemas de argumentações propostas pelos estudantes

Esquemas de argumentações propostas pelos estudantes, baseadas no modelo de Toulmin

Foto 01: Oficinas

Fotos durante a realização das oficinas.

Conclusões

Os dados revelaram que as atividades realizadas, estimularam a elaboração de um número considerável de argumentos por parte dos estudantes acerca dos temas propostos. A argumentação apresentada pelos discentes aponta para a existência dos componentes, dados, justificativa e conclusão, como mencionado no modelo de Toulmin. Por meio da análise dos dados, podemos afirmar que a argumentação consiste em uma estratégia que favorece o desenvolvimento da linguagem científica, possibilitando maior interação entre a turma e desenvolvendo a capacidade de discussão sobre problemas científicos e sociais.

Agradecimentos

Ao projeto Ciência sobre Rodas; Aos alunos que se dispuseram participar da pesquisa; Aos colegas de curso que colaboram para realização das oficinas; E em especial ao

Referências

CAPECCHI. M. C. V. de. M; CARVALHO. A. M. P. de. Argumentação em uma aula de conhecimento físico com crianças na faixa de oito a dez anos. Investigações em Ensino de Ciências. http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol5/n3/v5_n3_a2.htm.

COLOMBO. P. D. J; LOURENÇO, A. B; SASSERON, L. H; CARVALHO. A. M. P. de. Ensino de Física nos anos iniciais: análise da argumentação na resolução de uma “atividade de conhecimento físico”. Revista Investigação em Ensino de Ciência, v.17(2), p.489-507, 2012. http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID302/v17_n2_a2012.pdf.

DIAS. A. S; SILVA, A. P. B. da. A argumentação em aulas de ciências como uma alternativa ao uso das novas tecnologias da informação e comunicação em cenários comuns á escola publica brasileira. R. bras. E st. pedag., Brasília, v. 91, n. 229, p. 622-633, set/dez.2010. http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/1591/1360

FLICK, Uwe. Métodos de Pesquisa: Introdução à Pesquisa Qualitativa. 3ª ed. Porto Alegre: Editora ARTMED, 2009.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010.