Autores

Souza, P.V.T. (UFU/IFGOIANO) ; Silva, R.M.S. (UFU) ; Amauro, N.Q. (UFU)

Resumo

Este trabalho aponta os resultados parciais de uma pesquisa que investiga o papel das aulas de Química no ensino médio. Desta forma, para a construção de dados, realizou-se entrevistas semiestruturadas com cinco professores de Química de escolas públicas estaduais da cidade de Uberlândia/MG. Além disso, acompanhou-se as aulas de um dos professores participantes. A análise dos dados possibilitou notar que a prática pedagógica do professor da educação básica é direcionada a preparação do aluno para obter êxito em processos seletivos, em contraposição a uma prática que visa à formação para exercer o seu papel de cidadão crítico e participativo na sociedade.

Palavras chaves

Ensino Médio; Aulas de Química; Práticas Pedagógicas

Introdução

No Brasil, as instituições de educação possuem o ensino médio legitimado como a última etapa da educação básica. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), o ensino médio tem a finalidade de possibilitar que os estudantes tenham condições de consolidar e aprofundar os saberes adquiridos no ensino fundamental, preparar para o trabalho, aprimorar o educando como pessoa humana, com formação ética, autonomia intelectual e pensamento crítico, e, ainda, favorecer a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos (BRASIL, 1996). Os documentos oficiais que regem a educação no Brasil, como as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM), apontam um avanço para a superação do dilema do ensino médio a partir da elaboração de um currículo único, reforçando a importância de trajetórias diversificadas nessa modalidade de ensino (BRASIL, 2013). Nesta perspectiva, ao avaliar as DCNEM, Moehlecke (2012) afirma que o currículo e a identidade do ensino médio têm um caráter tanto unificado quanto diversificado, sendo essa sua principal mudança. Por sua vez, os documentos oficiais do Ministério da Educação (MEC) contemplam em suas propostas e orientações curriculares questões ligadas às especificidades regionais existentes em virtude das diferenças culturais da população brasileira, ao propor que o currículo do ensino médio necessita conter uma parte comum e outra diversificada de forma a atender às particularidades regionais. Diante do exposto, este trabalho objetiva-se em avaliar o papel das aulas de Química no ensino médio, considerando o Currículo Básico Comum (CBC), o DCNEM e, ainda, a prática exercida pelos professores de Química que ministram aulas em escolas públicas da cidade de Uberlândia/MG.

Material e métodos

A pesquisa envolveu cinco professores pertencentes ao quadro permanente da rede pública estadual de Uberlândia/MG. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas com cada um deles. Dentre os cinco professores entrevistados, dois pertencem a uma mesma escola e os outros três trabalham em escolas centrais. Gravou-se as entrevistas em áudio e, em seguida, transcreveu-se para leitura e posteriores análises. Também observaram-se as aulas de três turmas da terceira série do ensino médio e as aulas de Química do projeto “Aprofundamento de Estudos”, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Outro instrumento de pesquisa utilizado foi o caderno de campo, no qual fez-se apontamentos e avaliações das aulas a partir de descrição de situações e falas importantes relacionadas aos vários aspectos da prática docente. Observou-se, aproximadamente, um semestre das aulas realizadas na modalidade “aprofundamento de ensino” e, no ensino regular, o modo como a disciplina de Química é trabalhada nas duas modalidades de ensino. A princípio, fez-se um trabalho de imersão no cotidiano da instituição, procurando não chamar a atenção dos alunos, já que o objetivo era diminuir ao máximo as interferências causadas pela presença dos pesquisadores.

Resultado e discussão

Os objetivos educacionais do ensino médio regular não aparecem de forma explícita no documento oficial da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (SEE/MG, 2007), o Currículo Básico Comum. Por sua vez, os argumentos para a proposição da reforma deste consideram a interação com o aluno numa perspectiva sociointeracionista, trazendo uma nova proposta para o ensino de Química nas escolas mineiras. Desta forma, buscou-se entender as concepções dos professores. Segundo os professores participantes, a avaliação que eles fazem do Ensino Médio é a de preparar o aluno para os processos seletivos. Frases como: “passar conteúdo para os alunos” e “focar o máximo possível na parte dos processos seletivos”, justificam tal afirmativa. Em seguida, os professores foram assim questionados: “Para nortear a sua prática docente no Ensino Médio, você se orienta segundo os conteúdos programáticos do CBC ou de acordo com os programas de processos seletivos das Universidades?” Para os professores não há um consenso em relação à escolha dos conteúdos e programas curriculares que orientaram suas práticas, embora um dos professores afirme não fazer escolhas, mas tenta conciliar os dois programas. Entende-se que os objetivos educacionais do Ensino Médio não podem se restringir à preparação para o ingresso no ensino superior e nem ao de formação profissional, mas a preparação de um cidadão pronto para o exercício pleno da cidadania. Tendo por base propostas de ensino-aprendizagem fundamentadas em abordagens inovadoras, nas quais o aluno deve ser o foco do processo educacional, aferiu-se que, apesar das diferenças nas finalidades educacionais, as práticas educativas são essencialmente as mesmas e apresentam uma abordagem de ensino marcada por forte caráter conteudista.

Conclusões

Foi possível perceber que os professores de química são submetidos a um sistema de ensino, muitas vezes, inflexível, principalmente quando se refere a estrutura física da escola e o número de alunos por sala de aula. Acredita-se que tais aspectos da prática docente devem ser contemplados nas discussões sobre o tema, de modo a garantir ao professor a autonomia no planejamento de suas ações em sala de aula, assegurando, assim, sua tão necessária flexibilidade para inovar suas práticas, tendo um currículo que contemple os objetivos educacionais que visem à formação cidadã.

Agradecimentos

Agradecemos aos professores envolvidos na pesquisa, ao Instituto de Química da UFU e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano - Câmpus Catalão.

Referências

BRASIL. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretária de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília, DF: MEC, SEB, DICEI, 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em: < http://portal.inep.gov.br/web/censo-da-educacao-superior/evolucao-1980-a-2007>. Acesso em 14 de set. 2013.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação. Química: proposta curricular. Educação Básica. Belo Horizonte, 2007.

MOEHLECKE, S. O ensino médio e as novas diretrizes curriculares nacionais: entre recorrências e novas inquietações. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 17, n. 49, p. 39-58, jan./abr. 2012.