Autores

Arias Cedeno, Q. (UEA) ; Souza Rodrigues, P. (UEA) ; Souza da Silva, J. (UEA)

Resumo

Apresenta-se a proposta de uma experiência inovadora para o ensino da Química do 1º ano do ensino médio. Pensou-se na possibilidade do uso da prática com a experiência da vida cotidiana através da reprodução do sal do índio, com intuito de motivar os alunos para o interesse na disciplina de Química. Durante a experimentação foi possível obter pelos alunos o resultado desejado, a obtenção do sal. Observou-se que houve um despertar para o conteúdo abordado sobre Sais, onde os discentes aprovaram a aula prática no âmbito não formal. Foi possível perceber que aprender Química se divertindo contribui para despertar o interesse da disciplina e a apropriação dos conhecimentos.

Palavras chaves

Prática de Ensino¬; Experiência do cotidiano¬; Sal do índio

Introdução

Através das observações feitas no estágio supervisionado de estudantes, do curso de Licenciatura em Química do Centro de Estudos Superiores de Parintins (UEA), nas escolas estaduais no município, percebeu-se o alto grau de desmotivação por parte dos alunos em relação ao conteúdo da disciplina de Química e as grandes dificuldades que os mesmo têm em assimilar os assuntos abordados. O Ensino da Química de sempre pode transformar-se e inovar-se incorporando fenômenos próximos e atrativos para os alunos. Com o objetivo de motivar o interesse deles para a ciência é importante emparelhar os conteúdos químicos com suas implicações sociais para que os alunos apreciem a relevância da Química em suas vidas. Neste contexto, com base em uma reportagem feita pelo programa da Rede Globo, Globo Repórter, sobre os índios Xingu do estado do Pará e a produção do sal vegetal indígena para tempero alimentício, feito a partir da planta do mureru, pensou-se na possibilidade de uma experiência inovadora para o ensino da química, tendo como proposta o uso da pratica com a experiência da vida cotidiana através da produção do sal desenvolvida pelos índios. A Química cotidiana pode ser significativa para o desenvolvimento de habilidades necessárias a um aluno no nível médio e, além disso, outros como a necessidade de conservar o meio natural e a saúde; adquirir conhecimentos sobre aplicações da ciência na vida cotidiana; aprender a desfrutar fazendo ciência; desenvolver atitudes científicas como a curiosidade, o espírito crítico, a honestidade e a perseverança. (JIMÉNEZ, 2003). A partir dos procedimentos experimentais da produção do sal foram abordados conteúdos da temática de sais, métodos de separação de misturas e cálculos químicos.

Material e métodos

A experiência foi desenvolvida como parte das atividades da disciplina Prática de Ensino de Ciências e Química II, durante o 8º período do curso de Licenciatura Plena em Química, de agosto a dezembro de 2014. Foi organizada como uma prática não formal com uma turma de 35 alunos, subdividida em cinco grupos, de 1º ano de ensino médio da escola estadual “Tomazinho Meireles” do município de Parintins. Foi desenvolvida em quatro etapas de trabalho: (1) Coleta, lavagem e secagem do material vegetal, (2) Produção de sal segundo método usado pelos índios, (3) Desenho de um fluxograma da produção do sal a pequena escala e realização da prática na escola. (4) Socialização com todos os alunos do 1º ano da escola. Para cada etapa foram elaboradas guias de orientação para a pesquisa e preparação previa dos alunos. Foi aplicado um questionário no inicio e final da experiência com o objetivo de avaliar a motivação e aprendizagem dos alunos. O processo a ser utilizado nessa pratica foi à extração do sal vegetal a partir do mureru, uma planta aquática da Amazônia, conhecida também como aguapé, baronesa aguapé, camalote, dama-do-lago, jacinto-d ‘água, murerê, muriru, murumuru, mururé-de-canudo, orelha-de-veado, orquídea-d ‘água, rainha-dos-lagos, cujo nome cientifico é Eichhornia crassipes. As plantas foram coletadas no Lago do Macurani, localizado no município de Parintins - AM. A obtenção do sal através do método usado pelos indígenas fez-se seguindo a técnica reportada por Roriz, J. em 2010. Foram utilizadas recipientes de barro de diferentes dimensões e colheres de madeira. A biomassa coletada pelos alunos (caules e folhas de mureru) foi medida em kg e o rendimento em porcentagem.

Resultado e discussão

Para desenvolver a experiência, buscou-se trabalhar considerando a variedade de elementos naturais presentes ao nosso redor como recursos mediadores para o ensino. Neste sentido, a escola é um espaço privilegiado estabelecer relações entre o conhecimento cientifico e o cotidiano. (CUNHA, 2009). Durante a coleta da planta foram analisadas suas características botânicas e a partir da composição química reportada por MEDEIROS em 1999 sistematizaram os conhecimentos sobre a nomenclatura de sai. Nas seguintes atividades práticas se trabalharam os conteúdos de combustão, métodos de separação de misturas, as propriedades físicas das sai, suas aplicações, em especial do cloreto de potássio, seus benefícios para a saúde e os cálculos de rendimento. Em grupos os alunos coletaram e processaram o material, trabalhando em conjunto sem a formalidade da sala de aula. Observou-se que a curiosidade dos alunos aumentava cada vez mais em saber como obter o sal daquela planta que os mesmos jamais imaginavam que seria possível. Neste sentido, acredita-se que as aulas nos espaços não formais podem se tornar uma importante estratégia para a educação científica e construção do conhecimento. Ao fim da pratica em um ambiente não formal, pode-se desenhar uma pratica de estudo com materiais do cotidiano, manuseio de recursos naturais e valorização da cultura amazônica. Observou-se que os alunos foram instigados a questionar e participar da prática que passou a ser dinâmica houve um despertar para aprender o que estava ensinando sobre o conteúdo de Química com resultados superiores do questionário aplicado ao final da experiência com respeito ao início. Foi muito significativo à participação dos discentes desde a coleta até a apresentação para os demais alunos na escola.

Conclusões

Com o objetivo de motivar o interesse dos alunos para a disciplina de Química é importante emparelhar os mesmos com suas aplicações, relacionando a teoria com pratica para que os estudantes assimilem, entendam e apreciem a relevância e a presença da Química em suas vidas e a variedade de elementos naturais presentes ao nosso redor como recursos mediadores para o ensino. Durante a experiência além de obter o resultado desejado, o sal do índio, demonstrou-se que o desenho da prática de estudo pode ser uma via não formal para o ensino dos sais no 1o ano do ensino médio.

Agradecimentos

Referências

CUNHA, A. M. O. Ensino de Ecologia em espaços não formais. III CLAE e IXCEB, 10 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço, MG.
Fisioterapia: o poder das ervas, Globo Repórter – Rede Globo/ 2003. Disponível em: http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-20089-3,00.html.
JIMÉNEZ, L. M.; SÁNCHEZ, G. M.; TORRES, E. M. Didáctica de la Química y Vida Cotidiana. Publicaciones de la Escuela Técnica Superior de Ingenieros Industriales. Universidad Politécnica de Madrid, ISBN: 84-7484-156-9, p15-25. Madrid, 2003.
Medeiros, M. L.; Sabaa, A., Roquette, P. C. Estudo da biomassa de aguapé, para a produção do seu concentrado proteico. Ciência e Tecnologia de Alimentos vol.19 n.2 Campinas May/Aug. 1999. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-20611999000200013.
RORIZ J. Substituto do sal. Disponível em: http://jorgeroriz.wordpress.com/substitua-o-sal-usado-na-alimentacao-por-um-po-extraido-de-uma-planta >.Acesso em: 26 set 2014.