Autores

Trindade Souza, J.R. (IEMCI / UFPA) ; Machado, J.R.C. (IEMCI / UFPA) ; Mata, R.G. (UFPA)

Resumo

Com o objetivo de analisar a importância do Estágio Supervisionado na formação da identidade de professores de Química, realizou-se uma pesquisa com alunos de Licenciatura em Química da UFPA, que desenvolveram esta atividade em escolas públicas e privadas na Região Metropolitana de Belém–PA. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se entrevistas, questionários e o Memorial de Estágio. Os resultados apontam para uma mudança de postura dos alunos em relação aos objetivos da educação e da importância do professor no processo educacional. A partir deles é possível concluir que o estágio supervisionado, concebido e executado como se apresenta neste estudo, pode ser uma atividade acadêmica capaz de influenciar de forma inequívoca o processo de construção da identidade docente.

Palavras chaves

Estágio Supervisionado; Ensino de Química; Formação Docente

Introdução

A Resolução CNE/CP 2 do CNE que instituiu a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, estabelece que os alunos desenvolvam no mínimo 400 horas de estágio supervisionado (BRASIL, 2002). Em 2004, na implementação do novo projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Química da UFPA (MACHADO, 2004) foram introduzidas 408 horas de estágio. Para um aluno se tornar um professor comprometido com a educação, é necessário que ele domine os conhecimentos da ciência moderna, afetivos e atitudinais, com o aumento da presença das “humanidades” no currículo formativo, ampliando a concepção do trabalho do professor de uma simples “função” para uma carreira realmente “profissional” (IMBERNÓN, 2000). A universidade não prepara o futuro professor para lidar com a realidade da sala de aula como, por exemplo, a indisciplina dos alunos. O conhecimento atitudinal, os estagiários podem vivenciar e apreender densamente durante a realização do estágio na presença de professores experimentados na Educação Básica. Assim, existe a necessidade de se realizar uma avaliação da influência que o estágio apresenta no processo de construção da identidade docente e acadêmica dos alunos em processo de formação. Este exame pode mensurar competências e habilidade adquiridas no plano imediato do ‘saber fazer’ e, por meio dos relatos e reflexões de suas vivências pode-se repensar e aperfeiçoar o estágio supervisionado, possibilitando a reorganização dos objetivos desta atividade acadêmica. Para Pimenta e Lima (2004)” a identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério”. Mobilizar os saberes da experiência é o primeiro passo num curso de prática de ensino que propõe mediar o processo de construção de identidade dos futuros professores.

Material e métodos

Segundo Gil (2010), o trabalho aqui desenvolvido caracteriza-se como qualitativo, quantitativo, exploratório, descritivo e estudo de campo. A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o indivíduo, fazendo parte dela a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados. Oliveira (2004) mostra que a pesquisa quantitativa também é qualitativa, pois o que é medido continua a ser uma qualidade. A população investigada constitui-se de 190 alunos do curso de Licenciatura em Química da UFPA que integralizaram o curso entre os anos de 2007 e 2013. Utilizou-se como instrumento de coleta de dado entrevistas semiestruturadas, um questionário contendo 27 perguntas, o qual continha indagações a respeito do desenvolvimento do estágio. Para Barros e Lehfeld (2010), a entrevista é uma técnica que permite o relacionamento estreito entre entrevistado e entrevistador. Considerando que é no processo de formação que são consolidadas as opções e intenções da profissão que o curso se propõe legitimar, como avaliação final do ciclo de estágio do curso de Licenciatura em Química, propõe-se aos alunos, como tarefa acadêmica, a elaboração do seu memorial de formação no estágio, na perspectiva do autoconhecimento e da reflexão sobre o seu próprio processo de formação, dando a conhecer as experiências de formação pelas quais passaram e às quais atribuem significados.

Resultado e discussão

Dos 190 alunos investigados 52% eram do sexo feminino e 48% do sexo masculino, com média de idade de 23 anos. Cerca de 70% dos estágios foram realizados em escolas públicas e 30% em escolas privadas. 62% dos entrevistados responderam que gostariam de ser professores, opção decidida antes da realização do estágio e que a realização do estágio confirmou esta convicção, sendo decisivo para seguir na profissão. Esta confirmação da opção pelo magistério com base nas observações realizadas no exercício do estágio ratifica as palavras de Pimenta (2011) que diz que “o estágio é uma atividade que traz os elementos da prática para serem objeto de reflexão, de discussão, e que propicia um conhecimento da realidade na qual irão atuar”. 85% dos alunos informaram que estavam inseguros antes da realização do primeiro estágio e que foram adquirindo mais confiança a cada estágio. 80% dos estagiários relataram situações inesperadas. Estes dados ressaltam a importância do estágio na formação docente, pois para Franco (2012) “ser professor requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos, educacionais, sensibilidade da experiência, indagação teórica e criatividade para fazer frente às circunstâncias únicas, ambíguas, incertas, conflitivas e, por vezes, violentas, das situações de ensino, nos contextos escolares e não escolares”. 71% dos entrevistados responderam que o estágio correspondeu às expectativas e cumpriu com o seu objetivo e que se sentem mais preparados para exercer o cargo de professor. Este resultado vai ao encontro do que afirma Buriolla (1999 apud PIMENTA; LIMA, 2004) “o estágio é o local onde a identidade profissional é construída: volta-se para a prática de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente com essa finalidade”.

Conclusões

A narrativa é um processo valoroso para a compreensão da formação da identidade docente. O memorial descreve e analisa a trajetória do aluno no estágio, produzindo reflexos na carreira profissional, explicitando as expectativas criadas antes e depois do estágio. Conclui-se que o estágio exerce influência no processo da construção da identidade docente, tornando-se imprescindível na formação de um professor, desde que conduzido com densidade teórica, inovação metodológica e compromisso com a construção de docentes capazes de responder à altura diante dos desafios enfrentados pela educação.

Agradecimentos

Às escolas públicas e privadas da Região Metropolitana de Belém, que receberam os alunos/estagiários.

Referências

BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELR, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007.

BRASIL. Conselho Nacional da Educação. Resolução CNE/CP 2/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p. 9.

FRANCO, Maria Amélia do Rosário Franco. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012.

GIL, Antonio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2010.

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo, Cortez, 2000. Coleção Questões da Nossa Época, v. 77.

MACHADO, J. R. C. Esboçando a cartografia de uma reforma curricular: Sobre os condicionantes que motivaram a elaboração do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química da UFPA. Belém, UFPA, 2004. Disponível em: www.ufpa.br/eduquim. Acesso em 25/05/2014.

OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 2004.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação dos professores: unidade teoria e prática? São Paulo: Cortez, 2011.