Autores

Santos, J.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Silva, E.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Sarmento, V.H.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

Resumo

Este trabalho apresenta uma discussão sobre alinhamentos e distanciamentos para a teoria da transposição didática (TD), de Yves Chevallard, presentes nos artigos publicados no periódico Química nova na escola. Utilizando como palavra-chave “Transposição Didática” foi realizado uma busca em todos os números disponíveis. Os artigos considerados válidos para o estudo foram analisados e categorizados em três linhas distintas, aqueles que se alinham, que se distanciam e parcialmente se distanciam da TD de Chevallard. Os resultados mostraram que dos artigos selecionados, 9 se aproximam das ideias Chevallard, outros 4 apresentam certo grau de distanciamento, alinhando-se a Mediação Didática e 7 se distanciaram desta teoria, contrapondo-se a Transposição Didática.

Palavras chaves

Transposição didática; Yves Chevallard; Ensino de Química

Introdução

Desde o momento que o conteúdo é posto nos livros até a chegada a sala de aula, há um longo caminho a ser percorrido, o que pode influenciar na transmissão deste conteúdo e consequentemente no aprendizado do aluno. O estudo da transposição didática (TD) permite conhecer o processo pelo qual transforma o saber que é produzido no contexto científico de forma que se possa ser ensinado na escola. De acordo com SILVA et al (2012) existem duas etapas para este processo acontecer: TD externa (fora do contexto escolar), ou seja o saber cientifico é transformado em saber a ser ensinado por meio dos livros didáticos até chegar a sala de aula; e a TD interna que transforma o saber a ser ensinado em saber ensinado e ocorre intramuros da sala de aula. Segundo CHEVALLARD (1991), o saber científico se transforma em saber a ser ensinado por meio de uma instituição invisível, a noosfera. MENEZES (2006) afirma que essa noosfera é composta por didatas, professores, pedagogos, técnicos de instituições do governo que gerenciam o ensino, e estes, por sua vez, se organizam e produzem programas, livros didáticos e currículos, cujo o papel é normatizar o que será ensinado. Isto comprova a importância do livro como produto final da primeira etapa da TD externa. É notório que existe um vasto número de publicações e capítulos sobre TD, entretanto, são escassos os trabalhos que realizam uma discussão confrontando as diferentes ideias e conceitos sobre o tema, sobretudo no ensino de química. Considerando essa questão, busca-se, com base em uma revisão da literatura sobre o assunto TD, investigar como essa temática é considerada nos artigos publicados na Química Nova na Escola (QNEsc), um dos mais importantes periódicos de ensino em química do país.

Material e métodos

Apropriando-se do entendimento Teoria da TD, proposta por Yves Chevallard, realizou-se um levantamento de artigos do periódico “Química nova na escola”, utilizando como palavra-chave o próprio termo “Transposição Didática”. Após selecionados os artigos pertinentes para o estudo deu-se início ao processo de análise do grau de apropriação da TD nestes materiais. Em seguida, com base na literatura do ensino de Ciências e análise prévia dos dados, foram elaboradas três categorias de análise para o estudo: apropriações que ratificam os apontamentos de Chevallard, cujas ideias foram amplificadas por Menezes (2006); discussões que apresentam novos argumentos, caracterizando assim certo grau de distanciamento, a Mediação Didática de Lopes (1999) e, em terceiro, os estudos que contrapõem-se a Transposição Didática, a destacar as Práticas Sociais de Martinand (1986). As ideias e definições de TD das três linhas são apresentadas em um esquema na Figura 1. Menezes (2006) realiza um trabalho de aprofundamento das ideias de TD interna e externa, deixando evidente que o professor pode realizar ambas, a depender da forma a qual se apoia no Material Didático. Enquanto Lopes (1999), apoiada no termo Mediação Didática, considera a percepção de interna e externa, contudo argumenta que a reconstrução de saberes que ocorre na escola se dá mediante a processo, o que, para a autora não é evidente na ideia original de Chevalard. Já Martinand (1986), com a defesa das Práticas Sociais, considera a TD limitada, afirmando que esta não leva em consideração saberes de outras esferas do conhecimento humano, como atividades sociais diversas (não só atividades cientificas, mas também atividades domésticas, culturais, etc.).

Resultado e discussão

A seleção dos artigos do periódico QNEsc considerando a TD resultou em vinte e dois (22) artigos. A Tabela 1 apresenta os artigos. Meramente organizacional, os artigos selecionados foram divididos de acordo com as seções existentes na revista: Conceitos Cientifico em Destaque; Espaço aberto; O Aluno em Foco; Pesquisa no Ensino de Química; Química e Sociedade; Relatos de Sala; Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID e Diversos (aqueles que não se enquadram em nenhuma das seções anteriores). Com base na tabela, percebe-se nas diversas seções da revista, que foram encontrados 9 artigos com elementos comuns os quais se aproximam das ideias de Menezes. Estes artigos mostram o papel do professor na sala de aula para produzir o saber ensinado, o que caracteriza-se pela transposição didática interna. Já 7 artigos se enquadram nas ideias de Martinand, que, em linhas gerais, destacam a relevância das práticas dos alunos no âmbito cultural, social ou cientifico. Destacando a Mediação Didática de Lopes, 4 trabalhos trazem que a transposição do conhecimento cientifico é extremamente importante, mas que antes é necessário conhecer e compreender o processo de mudança que estes passam, exatamente como defende a autora. Do total dos artigos selecionados, 2 não apresentaram características que pudessem ser classificadas em nenhuma das três linhas destacadas nesse estudo, pois apenas “citam” o termo Transposição didática sem estabelecerem qualquer aprofundamento. Além dessa análise conceitual realizada pelos artigos em estudo, podemos inferir que os autores discutem TD predominantemente de forma conceitual, sendo que nenhum artigo apresentou elementos de implementação da TD na sala de aula.

Figura 1

Ideias e definições de TD de cada autor

Tabela 1

Artigos divididos pelas seções da QNEsc e as respectivas linhas de estudo

Conclusões

Observou-se que a TD é discutida em três linhas distintas, aquelas que se alinham, as que se distanciam e, ainda, as que apresentam elementos críticos para maior escopo da teoria. Ficou evidente que a maioria dos artigos se alinham em maior ou menor grau das ideias de Chevallard, e por outro lado, mesmo aqueles que se distanciam, apresentam elementos que avançam do ponto de vista de conceber a teoria para além de aspectos apenas científicos. A destacar ainda que, dos 20 artigos analisados, a TD é tratada de forma conceitual sem avanços contundentes do processo de aplicação da sala de aula.

Agradecimentos

Universidade Federal de Sergipe e a CAPES pelo apoio financeiro, por meio do projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência).

Referências

SILVA, P. N.; SILVA, F. C. V.; NETO, J. E. S. A Transposição Didática como recurso para análise do Saber intramuros da sala de aula do conteúdo Termoquímica. In: Divisão de ensino de química da sociedade brasileira de química, 17. Ouro Preto. 2014.

CHEVALLARD, Y. La transposición didáctica: del saber sábio al saber enseñado. Buenos Aires: AIQUE Grupo Editor, 1991.

MENEZES, J. E.; MATOS FILHO, M. A. S.; SILVA, R. S.; QUEIROZ, S. M. A transposição didática de Chevallard: As deformações/transformações sofridas pelo conceito de função em sala de aula. p. 1190-1201. Disponível em:< http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/431_246.pdf>. Acesso em: 17 de Fevereiro de 2015.

LOPES, A. R. C. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999. 236 p.

MARTINAND, J. L. Connaître et transformer la matière. Revue française de pédagogie, v. 81, n. 81, p. 113-115, 1987.